26 de dez. de 2012

“Feios” – Scott Westerfeld – Galera Record.


A premissa da série “Feios” é interessantíssima: em um mundo de extrema perfeição, o normal é feio.

            E é isso mesmo. Quem nunca se sentiu assim? Quem, seja adolescente ou adulto, não se sentiu mal vestido numa festa glamorosa, ou feio perto de gente deslumbrante? Quem sequer uma vez desejou trocar “todo o seu reino” por uma chance de participar desse mundo perfeito, no qual a preocupação máxima seria ser feliz?

            É mais ou menos assim que Tally se sente. Nesse mundo futurístico em que vive (que poderia muito bem acontecer pós-fim-do-mundo-maya, caso tivesse ocorrido), os seres humanos como os conhecemos hoje foram, de certa forma, extintos, e hoje são apenas memórias desagradáveis do passado, conhecidos como “Os enferrujados” (por nossa tendência em transformar e criar máquinas e acessórios a base desse metal). Após a guerra que dizimou todo mundo, os sobreviventes decidiram reerguer a população mundial, mas dessa vez fazendo tudo direito: todos seriam belos, e a sociedade, harmônica e perfeita.

            Todos os jovens nascem e crescem da maneira comum, por isso são considerados feios (na verdade, são “normais”, com suas imperfeições típicas de uma criança/adolescente em desenvolvimento). Ao completar dezesseis anos, todos os jovens ganham de presente do governo uma cirurgia definitiva, na qual todas as imperfeições, todos os sinais e cicatrizes, todas as marcas que contam a história particular de cada um será apagadas, transformando o jovem num sujeito milimetricamente simétrico e calculado. A partir de então, o jovem vai morar em Nova Perfeição, lugar no qual a única preocupação é se divertir horrores na próxima festa.

            Tally está às vésperas do seu aniversário, mas sente muita falta de seu melhor amigo, que hoje já é um perfeito. Então, resolve invadir Nova Perfeição para vê-lo, se enrola no caminho e, na fuga, conhece Shay, uma menina cheia de vida que lhe apresenta um novo mundo de aventuras, para além dos muros. As duas se tornam amigas até que Shay foge para viver uma vida nômade e errônea e Tally tem sua tão sonhada cirurgia ameaçada por conta da escolha da amiga. Sem opção, a protagonista se vê obrigada a ir atrás da jovem – só que esse novo lar apresentará escolhas e possibilidades com as quais Tally não sonhava e, talvez por isso, ela passe a entender muito melhor como sua sociedade funciona.

            É claro que “Feios” é apenas um primeiro volume e, mesmo assim, conta uma trama recheada de intrigas, amores, corações partidos e twists nos momentos certos, fazendo com que o leitor deseje continuar a leitura. Mais importante que isso é Scott Westerfeld ter criado uma história baseada numa das maiores paranoias da sociedade contemporânea: a busca incansável pela perfeição, a todo custo. Talvez, e apenas talvez, escrevendo para jovens e abordando esses temas, quem sabe os leitores passem a criticar essa postura massacrante do culto à beleza e passem a se aceitar melhor do jeito que são.

            Só por isso, Scott já tem meu respeito.

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